– Meu filho, você não pode
fazer isso. – ralha a mãe.
– Porque, mamãe? – retruca
Luizinho.
– Seu irmão é pequenino. Não
sabe se defender.
– Mais eu quero brincar com
ele...
– Você pode brincar, mas não assim.
Você é maior e precisa cuidar dele. – aconselha a mãe.
Luizinho olha chateado para o
irmãozinho.
Carolina, em tom baixo e
carinhoso, explica para o filho de 5 anos.
– Lembra que nós vimos no
desenho que o cãozinho maior cuidava do cãozinho menor? Então, com você e seu
irmãozinho é a mesma coisa.
Luizinho reage ao tom de voz
da mãe e insiste.
– Mas mamãe, eles brincavam de
morder um ao outro, e como o bebê me mordeu, então eu mordi ele também.
E saiu correndo brincar com
seu carrinho.
***
Um dia, na saída da escola, Carolina
surpreende-se ao receber o filho todo sujo. – meu filho, o que foi que
aconteceu?
– Briguei com meu colega –
retrucou todo senhor de si.
– Luizinho, você não pode
fazer isso.
– Posso sim. Eu queria jogar
bola e ele queria brincar de esconde–esconde. Ele tem que brincar do que eu
quero. – disse Luiz com 10 anos em tom mandão.
– Não meu filho, você não pode
fazer isso. Dessa forma você está invadindo o espaço do seu colega.
– Eu não. Ontem brincamos de
esconde–esconde e hoje era dia de jogar bola... – insiste Luiz de modo natural
para ele - temos dias certos para cada brincadeira. Mas ele não quis e acabamos
rolando no chão. – finaliza a criança.
***
Luiz completa seus estudos e
inicia um estágio numa grande empresa.
– Bom dia a todos. Estamos
aqui reunidos para dar as boas–vindas ao novo integrante do nosso time: o
estagiário Luiz. Ele está aqui para complementar seus estudos e aprender
conosco a trabalhar de verdade. Aqui não é a moleza da escola. Aqui ele terá
que fazer o que nós mandarmos.
Risos disfarçados tentaram
amedrontar o novato.
Tadeu, o gestor da equipe se
dirige ao estagiário com uma ordem: – Luiz, após a reunião quero que você vá ao
décimo andar buscar um suco de laranja para mim.
Luiz que está em seu primeiro
dia mas já conhecia o prédio, estranhou e retrucou:
– Mas senhor, o prédio não tem
apenas nove andares?
Novos risos disfarçados do
grupo. O gestor, sério, leva adiante:
– Como é que é? Você tem menos
de uma hora na empresa e já está querendo saber mais do que seu chefe? Eu
mandei você ir até o décimo andar e pronto. Aqui você tem que fazer o que eu
mando.
– Sim, senhor. – respondeu o
estagiário solícito, se inclinando para ouvir o
que a colega ao lado começava a cochichar.
– E, Dona Maria, nada de
proteção, deixa o rapaz descobrir o caminho sozinho. Afinal, quem pergunta vai
à Roma, certo? Reunião encerrada. – completou Tadeu.
E assim, Luiz começou seu
primeiro dia, em meio à gozação do pessoal. No intervalo do café, ele saiu, foi
na lanchonete vizinha, comprou o suco de laranja e depois de 15 min voltou na
sala do chefe.
– Senhor Tadeu, aqui está o
seu suco. – apresentou sorrindo o pacote que trazia.
O chefe ficou sem graça e
comentou com a voz branda: – Eu estava brincando com você, Luiz. Queria quebrar
o gelo de seu primeiro dia aqui. Está certo que tem que fazer mesmo o que eu
mandar, mas dentro do racional e lógico, combinado? Não existe décimo andar
neste prédio, nem tem suco de laranja, só água e café.
– O senhor pode ter se
enganado com o andar, mas me deu a ordem de buscar o suco. Cabe a mim
identificar a melhor maneira de lhe atender e assim eu o fiz. – completou
satisfeito o novato.
– Obrigado. Gostei de sua pro–atividade
em buscar meios de atender ao que foi pedido. – Concluiu Tadeu sorrindo e
oferecendo sua mão em cumprimento.
Ponto para o Luiz. Sua mãe
ensinou a ser um rapaz independente a enfrentar a diversidade, a seguir regras,
e assim ele soube se sair bem em seu primeiro dia de trabalho.
Quando Luiz chega em casa,
encontra sua mãe feliz lhe esperando:
– E então, meu filho? Como foi
seu primeiro dia de trabalho?
– Foi ótimo mãe. Já na
primeira tarefa eu fui elogiado pelo chefe. Mas bem que me deu vontade de bater
nele para não brincar comigo daquele jeito. Mas depois eu entendi que era
apenas o jeito deles me darem boas–vindas. E agora, se me dá licença, vou
namorar.
Luiz sai em busca de seu amor, Luíza, com quem já antevê casado e com filhos. Uma mulher que em tudo lhe
apoiará a ter uma carreira de sucesso e uma família feliz.
Conversaram sobre o ocorrido
na empresa e sobre os ensinamentos que receberam de seus pais.
- Meu amor, quando ouvimos
“nãos” de nossos pais, ficamos bravos, tolhidos e não nos damos conta de que
estão nos mostrando as possibilidades, adversidades, caminhos a trilhar,
decisões a serem tomadas, ou seja, estão nos ensinando a viver. – Concluindo
Luiz.
- Sim, querido. Nossos pais
nos ensinam a ser livres para fazermos o que desejarmos sem interferir no
espaço do outro. A vida nos apresenta muros, pedras, lanças, vendavais, precipícios,
mas nós crescemos fortes e prontos para enfrentarmos o que a vida nos colocar.
E assim, uma nova família se
formou e propagou para seus filhos a liberdade de viver feliz, de sonhar, de
realizar esses sonhos, de respeitar o próximo, de ajudar a quem precisar, sendo
felizes para sempre.
***
Ao redor da
mesa, toda a família entoa a tradicional canção:
Parabéns pra
você / Nesta data querida / Muitas felicidades / Muitos anos de vida! /
Vivaaaaaaaa
Viva o vovô
Luiz!!!! Vivaaaaaa
Luiz, muito
sorridente, se inclina para alcançar as oitenta velinhas que foram acesas em
cima de um bolo maravilhoso, o seu preferido, sabor prestígio, grande o
suficiente para toda a sua família se deliciar deste momento de emoção. Filhos,
noras e genros, netos e netas já casados e alguns bisnetos.
– Vovô! –
disse Clarinha, de 5 anos, no colo da mãe – não se esqueça de fazer um pedido.
– É! –
retrucou Marcinha, de 6 anos, outra bisneta – E tem que cortar o bolo de baixo
para cima para dar certo o pedido.
E assim,
Luiz fez, atendendo à orientação das bisnetas.
– Pronto! A
primeira fatia é minha, claro! – risada geral – A segunda fatia é da minha nova
namorada e o restante vocês fatiam e distribuem, enquanto saboreio a minha
parte.
– Vovô! O
que você desejou? – retoma Clarinha curiosa.
– Eu desejei
que amanhã o céu esteja de um azul brigadeiro para que o filme do meu salto de
paraquedas fique legal!
“O quê?”,
“Hã?”, “Endoidou de vez!”, “Xiii caducou...” – familiares reagiram com surpresa
à notícia.
– Vovô, você
não pode. Olha a sua idade! Onde já viu isso? – ralha a neta mais velha, Luíza.
– NÃO
POSSO?!?!?!?! – sua voz firme e grave cala a família que, atenta pela reação,
se prepara para ouvir o que viria a seguir.
– Eu ouvi
“Luiz, você não pode” dos meus pais, colegas, chefes, filhos e agora da minha
neta! Mas eu vou pular SIM!!!
Luiz, olha
bem à sua volta encarando seus descendentes, levanta a taça de champanhe em
brinde e diz:
– A vida é
curta demais e precisa ser vivida!
Uma salva de
palmas e assovios seguiram sua declaração.
***
Elianete Vieira
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